'É muito tarde para cancelar': após elogios à abertura, imprensa estrangeira cita problemas dos Jogos

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Primeiro dia da Olimpíada do Rio teve filas para jogos
"É muito tarde para cancelar a Olímpiada do Rio."
Ao falar sobre o primeiro dia do evento, uma colunista de esporte do jornal americano The New York Times disse que ele já produziu "alegrias e angústias". Para Julet Macur, mesmo com orçamento apertado, o Brasil montou um bom show na cerimônia de abertura, mas ela lembrou que o país luta contra uma crise política e um "colapso econômico", além do Zika vírus.
"Apesar dos protestos e das críticas (...), as competições começaram: tiro, ginástica, vôlei e mais". "Agora, para esses atletas, e para muitos de nós, é tarde demais para voltar atrás. Está bem aqui, agora. Antolhos e repelentes prontos. Dedos cruzados. Velocidade máxima a frente."
Também neste sábado, o britânico "The Guardian" publicou uma reportagem dizendo que os Jogos tiveram um "início caótico", com fãs que ficaram nas filas por horas para entrar nas arenas e acabaram perdendo as partidas, enquanto atletas competiam com plateias vazias.
"Os organizadores dos Jogos pediram desculpas por deixar a bola cair no primeiro dia inteiro de competição, a mannhã após uma cerimônia de abertura deslumbrante."
O tablóide inglês The Mirror mencionou a denotação de um pacote suspeito perto da linha de chegada da prova masculina de ciclismo de estrada e destacou que a explosão foi ouvida por competidores. Outros veículos, no entanto, disseram que a operação ocorreu mais de duas horas antes da chegada dos atleta e assustou espectadores e jornalistas no local.
O tom das notícias mostra que, depois de elogios à cerimônia de abertura, a imprensa estrangeira não deve poupar críticas aos Jogos.

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Pira olímpica, example da mensagem de sustentabilidade e relativamente baixo custo que marcou cerimônia
Na noite de sexta-feira, o The New York Times descreveu a festa no Maracanã como "inspiradora", dizendo também que ela ocorria em um "país ferido".
"Jogos dourados começam em Rio cinzento", escreveu o correspondente do jornal no Brasil, Simon Romero, em referência à tensão política e social que antecedeu a ocasião.
"Se há uma nação precisando de um show inspirador nesse momento, ainda que na forma de exercício de relações públicas, é o Brasil", continuou.
'Melhor do Brasil'
Para o espanhol El País, a cerimônia conseguiu se afastar do excessivo patriotismo que pode contaminar ocasiões semelhantes.
"O espetáculo, capaz de transformar o hino do Brasil quase em uma canção de protesto interpretada pela voz íntima de Paulinho da Viola, um Deus do violão, afastou dos Jogos o tom triunfalista tradicional", descreveu o El País.
Foi, nas palavras do principal diário espanhol, "uma celebração do melhor que o Brasil deu ao mundo."
Mensagem climática
Para o britânico Guardian, a cerimônia foi uma mistura de "patriotismo contido com preocupação climática."

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Os aneis olímpicos, formados por árvores
Comparando a ocasião com a abertura dos Jogos de Londres, a reportagem disse que, "enquanto Danny Boyle (o diretor da cerimônia britânica) marcou o início dos Jogos de Londres 2012 com aneis de fogo, os aneis cariocas formaram árvores, para refletir o tema ambiental que marcou a cerimônia".
Ao mesmo tempo, o Guardian notou que "o clima político do país nunca esteve muito abaixo da superfície, muito menos quando o presidente interino, Michel Temer, foi ruidosamente vaiado ao declarar os Jogos abertos".
Aplausos e vaia
O francês Le Monde também notou o contraste entre os "atletas aplaudidos e um presidente vaiado".
"De repente", disse o jornal, em meio a uma atmosfera vibrande e festiva, "os males do Brasil invadiram o Maracanã".
Já a versão online do Financial Times disse que o Rio "brindou o mundo com um espetáculo elaborado sobre a rica cultura brasileira, da bossa nova ao funk".
Porém, a intriga política nunca esteve distante.
"A animada, mas relativamente barata cerimônia de abertura permitiu aos brasileiros esquecer um pouco o duro cenário dos Jogos."