Com tropeços na 1ª semana, Brasil faz as contas e torce por meta de top 10 no quadro de medalhas
- Fernando Duarte
- Da BBC Brasil no Rio de Janeiro

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Robson Conceição garantiu ao menos um bronze para o Brasil no boxe
Pouca gente deve ter torcido mais por Thomaz Bellucci nesta sexta-feira do que os dirigentes do Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
O tenista paulista deu a impressão de que causaria uma senhora zebra na Rio 2016 diante do lendário espanhol Rafael Nadal na quartas-de-final – uma vitória o deixaria a um outro jogo de uma medalha garantida, e a primeira do Brasil no esporte. Nadal, porém, depois de ser dominado no primeiro set, venceu por 2/6, 6/4 e 6/2.
Uma medalha de Bellucci seria inesperada, mas de grande ajuda para a meta brasileira de terminar a Olimpíada entre os dez países com mais subidas ao pódio. Não que o dia tivesse sido ruim: o judoca Rafael Silva conquistou a medalha de bronze do judô na categoria peso-pesado (mais de 100 kg), surpreendendo ao derrotar alguns dos adversários mais cotados para o pódio.
No boxe, Robson Conceição derrotou o uzbeque Hurshid Tojibaev e garantiu ao menos um bronze ao se classificar para as semifinais na categoria peso leve (até 60 kg) – o torneio olímpico não tem disputa do terceiro lugar. Felipe Wu conquistara a prata no sábado, no tiro esportivo.
Mas o COB ainda precisa fazer contas. O Brasil tem quatro medalhas definidas na Rio 2016 até agora (cinco, se contando com o pódio indefinido de Conceição) e ocupa apenas o 22º lugar na tabela de medalhas. Está longe do patamar de pelo menos 24 medalhas e mesmo de superar as 17 conquistadas em Londres 2012, na melhor participação olímpica até agora.
Precisa “correr atrás do prejuízo”, já que modalidades tradicionalmente fornecedoras de pódio tiveram desempenho abaixo do esperado na primeira semana da Olimpíada. O judô, por exemplo, terminou sua participação com três medalhas – o ouro de Rafaela Silva e os bronzes de Silva e Mayra Aguiar -, mas os dirigentes esperavam pelo menos cinco pódios na Rio 2016.
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Belucci chegou muito perto de ajudar a contagem brasileira
Longe de ser um resquício da Guerra Fria, quando americanos e soviéticos viam na superioridade esportiva um miniteatro para a guerra nuclear que não podiam lutar de verdade, a meta brasileira foi traçada como uma oportunidade de legado esportivo da Rio 2016 e uma prestação de contas para o investimento sem precedentes em um ciclo olímpico, incluindo verbas públicas.
João Fellet tenta entender como brasileiros chegaram ao grau atual de divisão.
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“Não vamos falar em satisfação ou decepção. A ordem do dia é só falar sobre projeções, metas e resultados depois do dia 21 (a data do encerramento dos Jogos). Não adianta ficar falando agora. Vamos deixar que as equipes trabalhem”, diz Marcus Vinícius Freire, superintendente técnico do COB.
Para atingir a meta, o país agora não pode se dar ao luxo de mais tropeços como o de Sarah Menezes, a judoca campeã olímpica que chegou ao Rio cotada para uma medalha em todas as projeções que normalmente precedem os Jogos. Mas ao menos os judocas conquistaram medalhas: a natação nem medalha conseguiu, apesar de chegar a um festival de finais.
Em meio a uma “ressaca geracional”, em que os principais talentos estão longe das primeiras posições do ranking mundial ou mesmo não se classificaram para os Jogos, como foi o caso de Cesar Cielo, que em Pequim 2008 conquistou o primeiro (e até agora único) ouro olímpico do esporte, a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos esperava ao menos um pódio – mais especificamente de Tiago Pereira, prata nos 400m medley em Londres. O nadador de Volta Redonda (RJ), porém, acabou apenas em sétimo.
O próprio tênis deu sua decepção também, com a eliminação da parceria entre Marcelo Melo e Bruno Soares, dois dos melhores duplistas da atualidade.
Isso fez com que esportes tradicionalmente medalhistas, como o vôlei, o vôlei de praia e o futebol, bem como a vela precisarão confirmar expectativas. Os sinais, porém, não são bons. Após as regatas deste sábado, apenas a dupla formada por Martine Grael e Kahena Kunze é quem mais perto de um pódio está, ocupando a segunda colocação na classe 49er FX.
Robert Scheidt, o maior medalhista olímpico brasileiro ainda em atividade, depende de uma complexa combinação de resultados para conseguir mais uma na classe Laser - a mesma em que foi ouro em Atlanta (96) e Atenas (2004). Na classe Finn, Jorge Zariff ocupa a sexta posição e ainda se mantém na disputa por medalhas.
Também espera-se que Arthur Zanetti, que em Londres conquistou um ouro e a primeira medalha brasileira na ginástica artística, mantenha-se no pódio.
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Ouro de Rafaela não livrou o judô de críticas
O país precisará contar com a ajuda de modalidades de sucesso mais raro, como o pentatlo moderno, em que Yane Marques foi bronze em Londres.
Esperam-se também pódios inéditos. Isaquias Queiroz, na canoagem de velocidade, é uma aposta. Ele é bicampeão mundial na categoria C-1 1500m, que não é olímpica, mas é apontado por especialistas como um dos candidatos à medalha na prova C-1 1000m.
Campeão mundial em 2013, o handebol feminino é outra esperança de pódio, em outra modalidade ainda “virgem” para o Brasil em Jogos. Também há a expectativa de resultados nas maratonas aquáticas, em que Poliana Okimoto e Ana Marcela Cunha têm resultados expressivos em mundiais.
No atletismo, as esperanças são poucas além de uma medalha de Fabiana Murer no salto com vara – ela é a atual vice-campeã mundial.
A espera prometer ser longa, ainda mais porque a suspensão de diversos atletas russos por doping foi, na opinião do COB, ruim para o Brasil, já que rivais do país pelo top 10 poderiam “herdar” pódios em modalidades em que a delegação anfitriã já não tinha muitas chances.