O 'trabalho mais duro' da Rio 2016, segundo 'Washington Post': explicar os problemas dos Jogos

Técnico retira amostra da piscina do Centro Aquático, cuja água esverdeou

Crédito, AP

Legenda da foto,

Técnico retira amostra da piscina do Centro Aquático, cuja água esverdeou

Assim como os jornalistas que assinam as reportagens, raras vezes os porta-vozes ocupam o centro da notícia.

O porta-voz do Comitê Organizador da Rio 2016, Mário Andrada, é uma exceção.

Andrada é o rosto da organização para os jornalistas de todo o mundo cobrindo o megaevento esportivo mundial. É também a pessoa responsável por explicar os dilemas pitorescos - e por que não dizer únicos - da Rio 2016.

"Quando uma bala perdida acabou na sala de imprensa do Centro Olímpico de Hipismo, Andrada correu para Deodoro e deu uma entrevista coletiva. Quando a piscina do mergulho ficou verde, Andrada ofereceu uma série de explicações por cinco dias", narra uma reportagem do jornal Washington Post nesta quarta-feira.

"Quando alguma coisa sai errado, ele tem de explicar. Muita coisa saiu errada. Sua feição solene, óculos pretos e cabelo raspado viraram o rosto público de pequenos desastres."

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Mário Andrada não anda rindo à toa, segundo reportagem do 'Washington Post'

O texto afirma que "a quantidade e a particularidade dos problemas da Rio 2016 projetaram Andrada, 56, para fora do anonimato".

"Seus filhos, Jonas e Theo, brincam que ele passa tempo demais na televisão. Caminhando pela multidão fora do estádio de atletismo, um estranho deu tapinha nos seus ombros e disse: 'Não se preocupe, a água vai ficar boa'."

Problemáticos ou inspiradores?

A reportagem sobre Andrada aborda os vários problemas enfrentados pela Rio 2016 diariamente.

Mas é justo concentrar-se apenas no lado negativo do primeiro evento realizado na América do Sul?, questiona outro texto publicado na terça-feira no New York Times e ainda sendo compartilhado nas redes sociais.

Para o autor do artigo, o colunista Roger Cohen, os Jogos do Rio são "inspiradores".

"Estou cansado, muito cansado, de ler notícias negativas sobre as Olimpíadas do Brasil", escreve Cohen. Ele lista a desigualdade nas favelas, a violência, os problemas de organização e o virus Zika, entre outras.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto,

Torcedores assistem à equipe feminina de futebol contra a Suécia no Maracanã

Para ele, o Brasil também tem histórias positivas, como a redução da pobreza e a estabilização econômica nos últimos 20 anos.

"Há algo no mundo desenvolvido que não gosta quando país em desenvolvimento organiza um megaevento esportivo. Ouvi as mesmas histórias na África do Sul durante a Copa de 2010 (...). O torneio foi um triunfo."

Por outro lado, escreve Cohen, "não lembro dos repórteres percorrendo as partes mais afetadas pela pobreza e o crime no Reino Unido em 2012, antes dos Jogos de Londres".

Cohen diz que sua "história favorita" nos Jogos do Rio é da judoca Rafaela Silva, que nasceu da Cidade de Deus, lutou contra o racismo e a pobreza e levou ouro em casa.

"Lá nas favelas, algumas crianças estão sonhando diferente hoje" por causa dela, diz Cohen. "E isso também dá matéria."