Entre alívio e orgulho, Jogos do Rio superam expectativas, diz imprensa estrangeira

Cerimônia encerramento Rio

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Clima chuvoso no encerramento foi propício a uma Olimpíada cheia de nuances, longe dos clichês sobre o Rio e o Brasil, apontaram redes estrangeiras

Os Jogos do Rio são história. Passados 2.515 dias desde a escolha da cidade como sede das Olimpíadas de 2016 e a cerimônia de encerramento deste domingo, a avaliação da competição que predomina na imprensa internacional é positiva.

Em geral, as análises descreveram a Olimpíada no Brasil como bem-sucedida - a despeito de problemas, mais coisas deram certo do que errado.

"Foi uma noite para o Rio celebrar. Apesar de preocupações sobre segurança e zika, os Jogos ocorreram em grande parte sem problemas", escreveu Tom McGowan, da rede americana de TV CNN.

"Muitos brasileiros entraram nesses Jogos simplesmente torcendo para nada catastrófico acontecer. Mas o Brasil está terminando a Olimpíada em um tom decididamente otimista", avaliou Reed Johnson, correspondente do Wall Street Journal no Brasil.

Para o britânico Financial Times, os Jogos do Rio "superaram muito as expectativas em casa e no exterior".

"Após problemas iniciais, a competição transcorreu em grande parte de modo suave, e as principais manchetes vieram de pequenos delitos de hóspedes estrangeiros", escreveram os correspondentes Joe Leahy e Samantha Pearson.

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Casal acompanha, sob chuva, a cerimônia de encerramento da Olimpíada no boulevard olímpico, no centro do Rio; balanço geral dos Jogos na imprensa internacional é positivo

Positivo e negativo

O jornal espanhol El Mundo, em texto de Germán Aranda, diz que foram Jogos vividos intensamente pelos participantes, "embora também com muito sofrimento e uma queixa comum sobre problemas de organização, sobretudo em transporte e acesso a arenas que muitas vezes tiveram pouco público".

"Vários jornalistas veteranos coincidiam em apontar Rio 2016 como 'os piores Jogos' em que estiveram", escreveu.

Ao analisar o legado dos Jogos para o Rio, Andrew Jacobs, do New York Times, concluiu que a Olimpíada "alterou profundamente" a cidade para melhor.

"Produzindo um porto revitalizado, uma nova linha de metrô e uma onda de projetos municipais, pequenos e grandes, que estavam há muito tempo na lista de desejo de administradores da cidade", afirmou.

Embora cite críticos que apontam uma herança de remoções, gentrificação e acordos suspeitos entre incorporadoras e construtoras, o jornal diz que a competição serviu como "poderoso catalisador" de revitalização urbana e projetos de infraestrutura que "irão melhorar a vida dos moradores".

O americano Washington Post e a rede alemã Deustche Welle mencionaram sentimento de "alívio" no Brasil pelo sucesso da Olimpíada.

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Para Wall Street Journal, Brasil termina Olimpíada em "tom decididamente otimista"

"Foi algo longe de uma execução perfeita pelo Brasil, que lutou com arenas vazias, temores de segurança e uma misteriosa piscina verde. Mas as duas medalhas na reta final para os anfitriões em dois esportes favoritos, futebol e vòlei masculino, ajudaram a suavizar algumas das arestas em torno dos Jogos para os brasileiros", foi o texto dos alemães.

O jornal americano diz que a Olimpíada "aproximou os brasileiros em uma bem-vinda distração das dificuldades do país, substituída por duas semanas de orgulho nacional".

A publicação lembra que a cerimônia de encerramento não contou com a presença de um presidente da República. "Uma estava aguardando seu julgamento de impeachment, e o interino ficou longe dos estádios após ser inundado por vaias na cerimônia de abertura".

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A imprensa internacional também destacou os desafios que permanecem à frente do país. "Qualquer efeito de bem-estar pode se dissipar quando a realidade voltar com tudo nesta semana", escreveu o Financial Times, em referência à crise política e econômica.

"Agora que o circo saiu da cidade, vai sobrar muito para cariocas e brasileiros enfrentarem nos meses e anos adiante. Embora o custo oficial dessas Olimpíadas terem sido estimados em US$ 12 bilhões, alguns especialistas afirmam que o valor real pode chegar a US$ 20 bilhões", afirmou o Wall Street Journal.

Fazendo um paralelo com a forte chuva no Rio no dia do encerramento, o jornal britânico The Independent disse que o clima foi simbólico para um evento "turbulento" que sobrepôs "glória esportiva com escândalos políticos, protestos, alertas de saúde e inúmeras subtramas que muitas vezes desviaram a atenção do evento em si".

Na mesma analogia climática, o Wall Street Journal concluiu que "a maioria das Olimpíadas modernas ocorreram sob a sombra da ambiguidade, então foi apropriado que esses Jogos terminassem em um final de semana nublado e chuvoso".

"Eles deixaram uma imagem final, não daquele local ensolarado dos românticos, o Rio do cinema, mas um Rio mais cheio de nuances, e um Brasil mais sutil, em tons de luz e sombra."