PIB brasileiro segue em queda, mas retomada econômica pode vir antes do previsto, diz OCDE

  • Daniela Fernandes
  • De Paris para a BBC Brasil
Fábrica de carros

Crédito, FIEP

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Melhora no curto prazo de indicadores como taxa de investimentos e produção industrial 'são bom sinal'

A diminuição das incertezas no cenário político brasileiro e o desempenho positivo de alguns indicadores econômicos levaram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) a melhorar suas previsões em relação à economia do Brasil.

Um estudo divulgado nesta quarta-feira pela organização prevê que o PIB brasileiro cairá 3,3% neste ano. Em junho, a estimativa era que a retração seria mais acentuada, de 4,3%.

Para 2017, a previsão é que a economia terá queda de 0,3%, em vez do 1,7% estimado em junho.

O relatório Perspectivas Econômicas Intermediárias antecede o estudo mais completo realizado semestralmente com previsões para a economia mundial.

Jens Arnold, economista da OCDE responsável pelas análises sobre o país, disse à BBC Brasil que a melhora de alguns indicadores de curto prazo, como o crescimento dos investimentos e da produção industrial, "são sinais de que talvez a retomada da economia brasileira ocorra um pouco mais cedo do que pensávamos".

Crédito, AP

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Definição do governo reduziu incertezas, diz economista da OCDE

A taxa de investimentos (também chamada de formação bruta de capital fixo) voltou a crescer no segundo trimestre deste ano, após mais de dois anos seguidos em queda. A produção industrial também teve desempenho positivo no mesmo período.

Para o economista alemão da OCDE, a definição do presidente que governará o Brasil até 2018 diminuiu as incertezas políticas, o que "é bom para os investimentos e para a economia em geral".

No estudo em junho, a OCDE havia afirmado que a "recessão profunda" no Brasil continuaria neste ano e no próximo "em um contexto de grande incerteza política", que também reduz a probabilidade de aceleração das reformas.

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Na opinião do economista, muitas das medidas anunciadas pelo governo do presidente Michel Temer "vão na direção certa" e correspondem a recomendações feitas pela OCDE no passado. Ele cita o exemplo da reforma da Previdência, em estudo.

"É muito importante o Brasil avançar nessa questão. O sistema previdenciário não será sustentável no futuro com os parâmetros atuais", diz, acrescentando ser necessário elevar a idade da aposentadoria no Brasil. "Os brasileiros se aposentam muito cedo em comparação com outros países."

O economista ressalta que ainda é cedo, no entanto, "para saber até que ponto vai ser possível gerar consenso político mais amplo para aprovar as medidas".

A OCDE também recomenda rever os mecanismos de indexação da aposentadoria mínima e outros benefícios sociais atrelados ao salario mínimo, por considerar que "não é um bom indexador para os benefícios sociais".

Para a OCDE, o Brasil deve aumentar os gastos com o Bolsa Família e não reduzi-los.

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Organização diz que sistema da Previdência não será sustentável no futuro

"Seria importante o Brasil redirecionar os recursos dos benefícios sociais e se concentrar nos benefícios que têm grande impacto sobre a redução da pobreza e da desigualdade, como o Bolsa Família", afirma Arnold.

Arnold diz ainda que a perspectiva em relação à inflação também é mais favorável do que há alguns meses. "A inflação deve continuar a trajetória de queda e se aproximar da meta, o que provavelmente poderá abrir espaço para a redução da taxa básica de juros."

Ele também prevê que, em 2017, poderá haver crescimento econômico de um trimestre para outro no Brasil, embora o PIB anual ainda deva fechar em queda de 0,3%, como afirma o estudo divulgado nesta quarta.

A economia mundial deverá crescer um pouco menos neste ano: 2,9%. Em 2015, o índice foi de 3,1%. A organização revisou levemente para baixo suas previsões de junho, quando havia estimado um crescimento de 3%.

Em 2017, a expectativa é de crescimento de 3,2%, menor do que os 3,3% do relatório de junho.