O mistério sobre o filho de Evo Morales que agora 'não existe'

Evo Morales, presidente da Bolívia

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Suposto filho de Evo Morales com gerente de empresa chinesa nunca existiu

Há três meses, um jornalista provocou um escândalo na Bolívia ao mostrar uma certidão de nascimento de um suposto filho do presidente Evo Morales com a empresária Gabriela Zapata.

Carlos Valverde usou o documento da criança para sustentar sua denúncia de que o governo boliviano teria ajudado a empresa chinesa CAMC com contratos milionários porque Zapara era na época gerente comercial da companhia.

No entanto, nesta semana, o próprio jornalista voltou atrás na informação inicial. "Tive acesso a uma informação séria que confirma que o suposto filho de Gabriela Zapata e do presidente Morales não existe", escreveu ele pelo Twitter.

Polêmica

Antes disso, Morales havia reconhecido que manteve uma relação de dois anos com Zapata, entre 2005 e 2007, mas garantiu que ela havia lhe contado que o filho que tiveram havia morrido pouco depois de nascer.

O presidente boliviano chegou a afirmar ainda que, caso o filho estivesse realmente vivo, ele gostaria de conhecê-lo.

"Tenho direito de conhecer meu filho, cuidar dele, protegê-lo. É minha obrigação. Espero que me tragam essa criança nas próximas horas", declarou Morales em 29 de fevereiro, depois de Valverde lançar a polêmica.

Como Zapata se negou a isso, Morales entrou com uma ação na Justiça para que ela lhe trouxesse a criança em um prazo de cinco dias, em uma audiência privada.

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Zapata alegava que filho era de Evo Morales

Filho nunca existiu

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Nesta quarta-feira, no entanto, o jornalista que denunciou o "escândalo" afirmou que a criança apresentada não era filho de Morales e Zapata, já que este, segundo ele, nunca existiu.

"Tenho a informação de que o filho de Evo Morales e Gabriela Zapata efetivamente não nasceu. Que existe uma criança, existe, de acordo com a informação séria que tenho. Mas essa criança não é filho de Gabriela Zapata, nem de Evo Morales, ou pior, não é de nenhum dos dois", explicou em seu programa de rádio Antes que seja tarde.

"Gabriela Zapata estava usando essa criança, apresentando a todos como se fosse seu filho", acrescentou.

Segundo Valverde, o menino seria, na verdade, neto de uma mulher chamada Pilar Guzmán, que foi identificada como tia de Zapata.

Na semana passada, a juíza Jacqueline Rada havia decidido que "foi evidenciado que não existem outros registros que provem ou confirmem a existência do sujeito de proteção."

Segundo a juíza, Zapata se recusou a fazer um teste de DNA que pudesse demonstrar que a criança apresentada seria mesmo filho do presidente.

Acusações

Agora, após as declarações de Valverde, o advogado de Morales, Gastón Velásquez, apesentou uma denúncia contra Zapata e seus advogados, Eduardo León e William Sánchez, assim como contra Pilar Guzmán.

O advogado acusa-as de alteração e substituição de estado civil, tráfico de pessoas, rapto de crianças, falsificação de documentos e falsidade ideológica.

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Apoiadores de Morales alegam que escândalo teria influenciado no resultado do referendo que permitiria mais uma reeleição ao presidente

Diante disso, o promotor Hector Arce confirmou que os advogados de Zapata e ela própria deverão ser investigados.

"Ouvimos o Sr. (William) Sanchez Peña, que disse que atesta a existência da criança", disse ele.

"Tudo isso precisará ser drasticamente investigado, porque não se pode brincar com a tranquilidade e a saúde emocional de crianças".

Segundo os apoiadores de Evo Morales, a acusação de tráfico de influência contra o presidente influenciou o desastroso resultado do mandatário na consulta pela reforma constitucional feita em fevereiro, pouco após o surgimento do escândalo.

O resultado acabou com as possibilidades de uma nova reeleição de Morales e foi a primeira derrota eleitoral do presidente boliviano em seus 10 anos no cargo.