'Saí da rota do caminhão para recarregar celular', diz brasileira em Nice

  • Fernanda Odilla
  • Da BBC Brasil em Londres
Promenade des Anglais ficou interditada nesta sexta-feira

Crédito, Xainna Oliveira

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Promenade des Anglais ficou interditada nesta sexta-feira

A DJ brasileira Xainna Oliveira, de 40 anos, diz ter escapado por pouco do ataque que deixou mais de 80 mortos em Nice, no sul da França.

Ela mora perto do local onde o caminhão deu início à sequência de atropelamentos e transmitia via celular a queima de fogos do Dia da Bastilha para a família no Brasil.

"Meu celular ficou sem bateria e voltei para casa para recarregá-lo. Acho que o que me salvou foi ter ficado sem celular, senão eu estava na rota do caminhão e sabe Deus o que teria acontecido comigo", contou à BBC Brasil.

Xainna diz ter achado que os gritos e estrondos vinham da televisão.

"Meu celular tocou, e era meu cunhado. Ele estava desesperado, querendo saber se eu estava viva."

Crédito, Xainna Oliveira

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Flores em homenagem às vítimas de Nice, deixadas na Promenade des Anglais

Segundo ela, a irmã e o cunhado gritavam do outro lado da linha que estavam presenciando um atentado - o casal, que também mora na cidade e tinha ido assistir aos fogos, voltava para casa a pé.

"Meu marido estava me filmando logo depois dos fogos. Foi ele desligar o aparelho e a gente viu o caminhão vindo em alta velocidade para cima das pessoas. Nos jogamos nas pedras, em direção à praia. Eu senti o vento do caminhão batendo na minha perna", relata a irmã, Camila Oliveira, de 42 anos.

Ela e o marido, Guillaume Chabosseau, perderam o caminhão de vista, segundo conta. Mas ficaram apavorados com o que viram imediatamente depois.

"Não consegui dormir. As cenas ficam se repetindo na minha mente. Muito sangue, choro e grito", diz.

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Xainna voltou nesta sexta ao local do ataque

Crédito, Camila Oliveira

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Camila Oliveira e Guillaume Chabosseau testemunharam atentado

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Segundo o casal, o caminhão surgiu exatamente do ponto onde Xainna estava.

"Me desesperei ao perceber que o motorista saiu atropelando gente do ponto onde minha irmã estava. Só me acalmei depois que ouvi a voz dela", diz Camila.

Xainna conta que se deparou com uma cena digna de filme de horror ao voltar para a rua.

"Era um clima de pânico, muita gente chorando, gritando. Corpos de mortos e feridos espalhados pelo chão. Pessoas tentando ressuscitar quem estava estendido no chão. Cada passo que eu dava, mais coisa horrível eu via."

Na França desde 2004 e moradora de Nice desde 2007, ela diz agora repensar seu futuro.

"Não penso em sair daqui por ora, mas está difícil demais. Está quase se transformando em rotina. O máximo que dá para fazer agora é evitar multidões", afirma. "Dá muito medo de não saber quando e como o próximo ataque pode acontecer."

Camila, no país há seis anos, espera momentos difíceis para imigrantes.

"Vai ser mais difícil nas fronteiras. E vai aumentar o preconceito."