Por que anúncio de EUA e China sobre Acordo de Paris pode ser boa notícia para o meio ambiente

Crédito, EPA
Presidentes dos Estados Unidos e da China foram elogiados por secretário-geral da ONU, mas estabeleceram metas bem diferentes para reduções de emissão de carbono
Os Estados Unidos e a China - que, juntos, são responsáveis por 40% das emissões de carbono do mundo - anunciaram neste sábado que ratificarão, ou seja, adotarão oficialmente, o acordo global sobre o clima de Paris.
Após chegar para a cúpula do G20 na cidade de Hangzhou, na China, O presidente americano Barack Obama disse que "a história dirá que o esforço que fizemos hoje foi essencial".
Mas a resolução dos dois países pode realmente ser uma boa notícia para o meio ambiente?
As emissões de gases do efeito estufa são a principal força por trás da mudança climática no planeta.
Em dezembro de 2015, durante a COP-21 (conferência do clima da ONU), países concordaram em reduzir suas emissões o suficiente para manter o aumento médio da temperatura global "bem abaixo de 2°C".
O ponto central do chamado Acordo de Paris, que valerá a partir de 2020, é a obrigação de participação de todas as nações - e não apenas países ricos - no combate às mudanças climáticas. Ao todo, 195 países membros da Convenção do Clima da ONU e a União Europeia assinaram o documento.
Mas ele só será aplicado legalmente depois de ser ratificado por pelo menos 55 países, que, juntos, produzam 55% das emissões de carbono.
"Este é um passo importante para tornar o Acordo de Paris uma realidade", diz o analista de questões ambientais da BBC Roger Harrabin.
"Outras nações vão brigar para entregar suas ratificações, mas isso vai colocar pressão nos países do G20 durante o fim de semana, para que sejam mais rápidos na promessa de parar de subsidiar a queima de combustíveis fósseis."
Metas diferentes
Até agora, as 23 nações que haviam ratificado o acordo eram responsáveis por somente 1% das emissões.
"Com a ratificação da China e dos EUA, só será preciso conseguir mais um par de grandes poluidores para que o total de 55% seja alcançado", explica Harrabin.
Mas mesmo que isso ocorra em breve, ainda há muitos desafios pela frente.
A Grã-Bretanha, por exemplo, ainda não ratificou o tratado. Um porta-voz da primeira-ministra Theresa May disse à BBC que isso seria feito assim que possível, mas não falou em datas.
No Brasil, o tratado passou pela Câmara dos Deputados, mas ainda precisa do aval do Senado.
Em seu discurso em Hangzhou, Obama afirmou que o Acordo de Paris é "a melhor chance que temos de lidar com um problema que pode acabar transformando este planeta".
O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou que Obama e o presidente chinês Xi Jinping foram "perspicazes, corajosos e ambiciosos".
Crédito, Reuters
Cortar emissões de carbono significa que a China terá que deixar de lado a queima de carvão mineral, uma de suas principais fontes de energia
No entanto, ambos os países estabeleceram metas muito diferentes, refletindo os diferentes estágios de seu desenvolvimento econômico.
Os Estados Unidos dizem que, até 2025, tentarão reduzir suas emissões de carbono para 26 a 28% abaixo do que emitiam em 2005.
Já a China prometeu reduzir apenas o avanço de suas emissões até 2030.
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Outro desafio, segundo Harrabin, é o fato de que mesmo que os dois países cumpram suas promessas, os cortes ainda resultariam em um aumento de 2,7ºC ou mais na temperatura do planeta - muito acima do 1,5°C que a ONU tem como meta.
Analistas alertam para o fato de que o objetivo de manter o aumento de temperatura abaixo dos 2°C já corre o risco de não ser alcançado.
Durante 14 meses consecutivos, meteorologistas registraram o mês mais quente da história. E a média de temperatura global deve aumentar mais nos próximos anos, na medida em que o efeito das emissões de carbono atuais forem sentidos.
A organização ambiental Friends of the Earth comemorou a decisão da China e dos EUA, mas seu porta-voz, Asad Rehman, disse que "o Acordo de Paris é um passo na direção certa, mas na verdade é fraco demais e adia as ações até a próxima década".
"O que precisamos é uma ação abrangente e urgente para cortar as emissões e construir um futuro com menos carbono", afirmou.