Fim de protestos devolve crianças de rua à penúria na Venezuela
Os protestos que tomaram conta da Venezuela entre abril e julho deste ano produziram um efeito inesperado.
Crianças em situação de rua foram algumas das protagonistas das manifestações antigoverno e, com isso, despertaram a atenção dos manifestantes - e passaram a receber doações mais frequentes de comida e roupas.
"As pessoas antes se assustavam com a gente, pensavam que íamos roubá-las. Mas, ali, elas não se assustavam. Falavam: 'Tem fome? Te dou algo. Tome um banho'", diz Caramelo, de 15 anos, que está grávida de seis meses.
Ela vive com outros jovens e crianças em uma galeria de fios de alta tensão sob uma movimentada avenida de Caracas.
Mas, com o fim das manifestações, ela e seus companheiros voltaram a se encontar em uma situação ainda mais difícil.
"Não recebemos mais doações", diz um menino.
"Estamos passando fome", completa uma adolescente.
Especialistas ouvidos pela BBC Brasil dizem que os atos no país, agora suspensos, lançaram uma luz sobre os meninos de rua.
"Reunidos nos protestos, vimos que são mais numerosos que pensávamos", afirma Óscar Terrero, diretor da ONG Cecodap.
E o número de crianças nesta situação vem aumentando, explica Leonardo Rodriguez, diretor da Rede de Casas Dom Bosco na Venezuela.
"O governo perdeu capacidade de dar alimentos e benefícios sociais. Isso fez desandar a estrutura familiar e fazer surgir na Venezuela situações de pobreza extrema, algo que nunca tínhamos visto."