Al-Nakba, a 'catástrofe' que mudou destino de palestinos em 1948 e está na raiz de conflito com israelenses

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15 de maio é lembrado para os palestidos como início de um êxodo em massa que está na raiz do conflito travado há décadas com os israelenses.
As 48 horas dos dias 14 e 15 de maio trazem marcas profundas do passado a israelenses e palestinos - e emoções conflitantes de um lado a outro. No ano de 1948, a primeira data marca a fundação do Estado de Israel, a concretização de uma aspiração histórica e uma conquista para os judeus anos após os horrores do Holocausto. Do lado palestino, o dia 15 é lembrado como o início de um êxodo em massa que está na raiz do conflito travado há décadas com os israelenses.
Anualmente, os palestinos relembram a data que passaram a chamar de "al nakba", árabe para "a catástrofe". Horas após a declaração de independência de Israel, tropas de Egito, Líbano, Síria, Iraque e Jordânia iniciaram uma ofensiva contra o novo país da região.
Os combates começaram horas após o fim do mandato britânico na Palestina - iniciado em 1923 por determinação da Liga das Nações para estabilizar e coordenar a partilha das terras da região.
À meia-noite do dia 15 de maio de 1948, encerrou-se a administração do Reino Unido, sem uma direção clara a ser seguida em relação à possível criação de um estado para os palestinos.
Confronto
Forças militares recém-formadas em Israel responderam aos ataques. Os israelenses receberam apoio de voluntários que chegaram de diferentes países do mundo - grupo que ficou conhecido como Machal - para repelir as ofensivas árabes.
O conflito forçou milhares de palestinos a deixarem suas casas. O número aproximado mais preciso, segundo a ONU, fica em torno dos 700 mil ao longo de toda a Primeira Guerra Árabe-Israelense.
Os números e motivos da saída palestina, no entanto, são objeto de discussão até hoje entre os dois lados. Os palestinos afirmam que houve um grande número de expulsões e muitas famílias foram impedidas de retornar após a guerra.
Israel se defende afirmando que nunca houve uma política de expulsões, apesar de reconhecer alguns casos isolados e atribuí-los a iniciativa própria de alguns agentes do estado ou paramilitares.
Em dezembro de 1948, a ONU emitiu a resolução 194, determinando que fosse permitido o regresso a todos os refugiados palestinos que desejassem voltar. O texto também pedia o pagamento de indenizações aos que não pretendessem retornar.
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Tensão contínua
Com a vitória israelense na guerra, em junho de 1949, o domínio territorial cresceu em relação às primeiras linhas definidas na partilha definida inicialmente.
Ao final do conflito, Jerusalém foi dividida. A parte ocidental da cidade ficou sob controle de Israel e a parte oriental com a Jordânia, um dos países vizinhos de Israel que tinha participado da guerra.
Mesmo antes da criação do Estado de Israel, no entanto, já havia disputas territoriais entre árabes e judeus nessa região.
Conflitos subsequentes e o aumento quase ininterrupto das tensões entre os dois lados levaram a um efeito ainda mais profundo na saída de palestinos para países árabes vizinhos.
Desde a nakba, o número de palestinos vivendo como refugiados cresceu para cerca de 5 milhões, segundo a ONU.
Em 1998, o então presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat, tornou o Dia da Nakba oficial no calendário palestino.
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Histórico turbulento
A Palestina recebeu esse nome dos romanos, que ocuparam o território (desde aproximadamente 63 a.C até o século 4 d.C.). Por volta do ano 70 d.C., após várias rebeliões contra a ocupação, grande parte dos judeus foi expulsa de suas terras pelos romanos. Com o surgimento do Islã, no século 7 d.C., a Palestina foi ocupada pelos árabes e, durante as Cruzadas, foi palco de inúmeras batalhas entre forças árabes e cristãos europeus - ambos buscavam o controle sobre o que viam como Terra Santa.
Em 1516, a Palestina passou a fazer parte do Império Otomano, que durou até a Primeira Guerra Mundial. A partir daí, franceses e britânicos ocuparam a região, redefinindo as fronteiras com países vizinhos.
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No começo dos anos 1920, o território da Palestina passou a ficar formalmente sob o comando do Reino Unido e, com apoio dos britânicos, judeus de todas as partes do mundo começaram a retornar à Terra Santa. Jerusalém foi capital do Mandato Britânico da Palestina até 1948.
Em setembro de 1947, a Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina defendeu a criação de um Estado judeu no Oriente Médio, se fundamentando em "argumentos baseados em fontes bíblicas e históricas" e na Declaração de Balfour de 1917 - na qual o governo britânico se posicionou favoravelmente a um "lar nacional" para os judeus na Palestina.
Em 29 de novembro do mesmo ano, a Assembleia Geral da ONU, em sessão presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, aprovou uma resolução recomendando a partilha da Palestina em substituição ao Mandato Britânico.
Em 1956, houve novo confronto com países árabes, quando Israel - com o apoio de França e Inglaterra -, declarou guerra ao Egito. Em jogo, estavam a nacionalização do canal de Suez e o fechamento do porto de Eilat, no Mar Vermelho, pelo então presidente egípcio Gamal Abdel Nasser.
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Foi nessa época que surgiu o Al Fatah, o Movimento para a Libertação Nacional da Palestina. Trata-se de um importante grupo político-militar palestino, que teve entre seus fundadores Arafat, que mais tarde chefiaria a Autoridade Palestina.
Em junho de 1967, veio a Guerra dos Seis Dias, em que Israel enfrentou forças sírias, egípcias e jordanianas - e venceu.
Depois da vitória, Israel assumiu o controle sobre Jerusalém Oriental - onde passou a construir assentamentos para colonos.
Estima-se que um terço da população de Jerusalém seja composta por palestinos - e muitas são as famílias que estão na região há séculos.
A ONU criou nessa época dezenas de acampamentos de refugiados nos países limítrofes, inclusive em Jerusalém Oriental. Mas, desde então, os confrontos se tornaram cada vez mais frequentes, violentos e mais difíceis de resolver.
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