Família não é avisada que filho desaparecido tinha sido enterrado e continua buscas por dois anos
Um ano e nove meses. Essa foi a duração das buscas por Robson da Cruz, empreendidas por seus pais. Com 39 anos e diagnosticado com esquizofrenia, Robson saiu de casa, em Mauá (SP), em junho de 2016, e não voltou mais. Nesse período, seu pai - que emagreceu 13,5 kg - mantinha a porta de casa sempre destrancada, na expectativa do filho retornar.
Mas, enquanto a família rodava a Grande São Paulo colando cartazes com a foto de Robson, ele já havia sido encontrado. Um dia depois de sair de casa, foi resgatado no Rio Tietê, em São Paulo, e levado para um hospital, onde teria ficado internado como desconhecido por cerca de um mês. Lá, faleceu. Seu corpo foi encaminhado para o IML e depois enterrado como indigente.
A história só foi revelada para a família em abril deste ano. O rapaz foi identificado após comparação tardia da digital colhida no hospital e no IML com seu RG, fornecido pela família ao comunicar o desaparecimento. Questionada sobre o motivo da demora, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo afirmou que "a Superintendência da Polícia Técnico-Científica vai apurar os fatos".
”Tudo ficou oculto, ninguém se manifestou. É uma falha muito grave, um desinteresse pelas famílias. Por mais que o Brasil não seja um país de primeiro mundo, está aí a tecnologia e não usam. Está faltando amor ao próximo", diz Leonardo da Cruz, pai de Robson.
O descaso de órgãos do Estado é uma realidade comum entre as famílias de desaparecidos no Brasil. São muitas as histórias de pessoas desaparecidas que passaram pelas mãos do Estado, mas cujas famílias só foram notificadas tardiamente. É muito provável, inclusive, que muitos desaparecidos que estão sendo buscados nesse momento estejam, na verdade, enterrados como indigentes.
A não comunicação da família é só uma parte do problema. As informações sobre pessoas desaparecidas no Brasil são todas desencontradas. Para começar, não se sabe quantas são.
O Brasil tem números precisos de homicídios, roubos de celular, vítimas de acidente de trânsito, mas não sabe quantas são as pessoas desaparecidas. Estimativas indicam que o número pode chegar a 200 mil pessoas. O México, por exemplo, tomado pela guerra ao tráfico, sequestros e tráfico de pessoas, tem cerca de 36 mil desaparecidos.
Outro problema é que não há um cadastro nacional de desaparecidos, dificultando as buscas. "Como a gente vai agir para resolver o problema se a gente não sabe quem está desaparecendo no Brasil?", questiona Dijaci David de Oliveira, que pesquisa o assunto e coordena o Núcleo sobre Violência e Criminalidade da Universidade Federal de Goiás.
As pessoas podem desaparecer por diversos motivos. Desde uma fuga adolescente de casa, desencontro de idosos e pessoas com problemas de saúde mental, mulheres que sofrem violência doméstica e fogem dos agressores. Até vítimas de tráfico de crianças para adoção, tráfico de pessoas para retirada de órgãos, tráfico de mulheres para exploração sexual, homicídios únicos ou em série, tribunais do crime organizado e ação de grupos de extermínio.
Assim, investigar os desaparecimentos e analisar os dados das ocorrências seria uma forma de tentar desvendar esses crimes. "O problema é gigante e não dá para resolver rapidamente. Mas é possível melhorar. Em vários países do mundo, não há recursos e capacidade. No Brasil, não é o caso. A capacidade está aqui, os recursos também, mesmo que não sejam tantos", afirma Marianne Pecassou, do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
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