27 de novembro, 2002 - Publicado às 17h58 GMT |
Fim da proibição do chiclete em Cingapura gera polêmica |
 País asiático tem regras rígidas de comportamento
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Sonia Ambrosio, de Cingapura
O fim da proibição das gomas de mascar em Cingapura, que permitirá a venda chicletes para uso médico a partir de 2004, está dividindo a opinião pública no país, conhecido por suas regras rígidas de comportamento.
A vendedora Milini Choo, 23 anos, diz que o governo deveria liberar todos os tipos de chiclete. Já o comerciante Chia Che Keng, 38 anos, é a favor da proibição.
Cingapura baniu a importação, fabricação e venda de chicletes, alegando que gastava milhões de dólares com limpeza por causa da dificuldade de remover as gomas de mascar das ruas.
A liberação do chiclete foi um dos mais difíceis aspectos dos dois anos de intensas negociações entre os Estados Unidos e Cingapura, segundo Tommy Kho, que representou o governo cingapuriano nessas discussões.
Uso médico
Para Tommy Kho, as longas negociações foram concluídas quando os dois lados chegaram a uma 'solução habilidosa' ao classificar certos tipos de goma de mascar como produtos de uso médico.
Desse modo, apenas chicletes sem açúcar e prescritos por médicos e dentistas, com fins terapêuticos, poderão ser vendidos em farmácias.
A médica Lily Neo disse que, há anos, vinha pedindo ao governo que liberasse o consumo das gomas de mascar para fins terapêuticos.
Uma delas seria a goma que contém nicotina e ajuda fumantes a lutar contra o vício.
O farmacêutico David Woo disse que o setor de publicidade médica vem divulgando que o chiclete sem açúcar aumenta a produção de saliva e ajuda a combater bactérias que permitem o aparecimento de cáries.
Crime
O acordo comercial entre Estados Unidos e Cingapura, que derrubou a proibição, só entra em vigor em 2004.
Enquanto isso, pessoas acusadas de importar chicletes podem ser condenadas a um ano de prisão e a pagar multa no valor de US$ 5 mil.
A posse de chiclete, no entanto, não é considerada um crime, e turistas podem entrar no país com chicletes para consumo próprio.
Ao longo dos dez anos de proibição, a população cingapuriana encontrou diversas formas de burlar a lei.
É comum, por exemplo, encontrar adolescentes cingapurianos atravessando a fronteira de Cingapura com Johor Baru, na Malásia, para comprar chiclete.
Para a empresária Bilon Ng, de 40 anos e mãe de três adolescentes, a proibição do chiclete é ultrapassada.
Já o marido de Bilon, Jack Ng, acredita que a proibição tenha ajudado a educar o cingapuriano sobre os efeitos indesejáveis de chicletes grudados nos assentos de cinemas e nas calçadas.
Livre comércio
O acordo de livre comércio entre Cingapura e os Estados Unidos é o primeiro do tipo em um país da Ásia e elimina tarifas no comércio de produtos eletrônicos, elétricos, químicos e de uso médico.
O acordo inclui ainda os setores de turismo, telecomunicações e investimentos.
A proibição das gomas de mascar acabou se transformando em uma das mais famosas leis de Cingapura, país conhecido por ter uma das mais severas legislações para regular o comportamento público.
Jogar lixo na rua, cuspir no chão, pichar muros, urinar em vias públicas ou fumar em pontos de ônibus são ações que podem ser punidas com multas pesadas e prisão.
A gota d'água para a proibição do chiclete aconteceu em 1992, quando jovens começaram a grudar gomas de mascar nas portas dos trens do metrô, o que impedia que elas se fechassem corretamente, causando atrasos e interrupções no transporte público. |
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