O que a rainha Elizabeth 2ª carrega na bolsa?
- Lindsay Baker
- Da BBC Culture

Crédito, Max Mumby/Indigo
Bolsa da soberana também é usada para emitir mensagens a assistentes
A rainha Elizabeth 2ª nunca cedeu à pressão da moda.
Sua filosofia pode ser resumida por uma frase de Norman Hartnell, estilista real que em 1953 disse ao jornal The New York Times: "A rainha não se preocupa em estabelecer tendências. Isso fica para quem tem menos trabalho para fazer".
A soberana, em outras palavras, está acima da moda. Seu estilo tem origem no começo de seu reinado, há mais de 60 anos, e ela se recusou a abandoná-lo.
Ele é intimamente ligado à sua identidade, e embora pareça "sem esforço", manda mensagens sutis - autoridade, tato e diplomacia, por exemplo.
E, quando a ocasião exige, elegância e opulência...
Crédito, Hulton Archive
Em sua coroação, a rainha esbanjou pujança
Mas foi surpreendente ver a rainha aparecer de lenço na cabeça para receber Barack e Michelle Obama em uma visita ao Castelo de Balmoral, em abril. Ela e o marido, o Duque de Edimburgo, determinaram o tom informal, amigável e familiar.
O lenço é uma marca registrada da Casa de Windsor desde os anos 40, quando a então princesa Elizabeth foi fotografada com sua irmã Margaret em um evento de hipismo, ambas com exemplares floridos na cabeça.
O visual foi adotado por celebridades como a atriz Audrey Hepburn e a ex-primeira-dama americana Jackie Kennedy.
Crédito, WPA Pool
Elizabeth usa lenços floridos na cabeça há décadas
Em Balmoral, a rainha se afasta ainda mais da formalidade.
Desde os anos 50 ela usa a mesma combinação de jaqueta de tweed e uma saia com a estampa escocesa tipo tartan. O padrão cinza, preto e vermelho é personalizado e foi criado pela rainha Vitória e o príncipe Albert quando eles adquiriram o castelo, no século 19.
Elizabeth 2ª manda uma mensagem ao usar a mesma roupa: diferentemente de outros círculos aristocráticos, ela não é chegada a uma ostentação constante.
"A rainha está sempre apropriada. O apelo vem do componente inglês nisso, uma elegância clássica e atemporal", afirma Caroline de Guitaut, curadora de uma exibição sobre o estilo da rainha - e que aborda os 90 anos de vida dela.
Elizabeth é uma das mais fotografadas e filmadas mulheres da história e a monarca com mais tempo de trono na história do Reino Unido.
E isso a tornou um ponto focal para a comunicação em massa, das fotos a cores ao advento da internet. Quando subiu ao trono, em 1953, a rainha tinha apenas 25 anos. Era jovem e glamourosa, sobretudo nas imagens de sua coroação.
Crédito, Getty Images
Estampa da saia segue tradição iniciada no reinado de Vitória
Para um país emergindo da austeridade da Segunda Guerra Mundial, a jovem Elizabeth 2ª representava esperança e modernidade. E ela foi ajudada pelo fato de que o início de seu reinado coincidiu com o apogeu da alta costura britânica.
Pode não ter lançado moda, mas foi certamente imitada. De acordo com de Guitaut, a rainha foi até experimental e ousada em alguns chapéus usados nos anos 50 e 60.
O lado subliminar do vestuário diplomático da rainha também foi trabalhado. Em suas viagens internacionais, cada traje tem um bordado sutil ou mesmo um padrão de cor destinado a cumprimentar o anfitrião.
Em uma visita à Austrália, ela usou um vestido com o vime, a flor-símbolo do país, por exemplo. Nas sete vezes em que esteve no Vaticano, sempre usou preto e um véu.
Nos dias de hoje, o guarda-roupa real é criado por Angela Kelley, e os modelos de vestidos e chapéus de cores coordenadas que a rainha usa em suas aparições públicas se tornaram sua marca registrada. Um estilo instantaneamente reconhecido.
Há regras básicas.
O salto de 5 cm, a saia mais comprida que o joelho e a barra com pesos para evitar constrangimentos em dias de vento. Os chapéus são altos, mas não muito largos, e as cores são ousadas (verde-limão ou coral, por exemplo).
E tudo funciona, ao ponto do estilo de Elizabeth 2ª ter se transformado em um paradigma de vestuário empoderado feminino, devidamente copiada por líderes como Margaret Thatcher, Angela Merkel e Hillary Clinton.
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Cada traje conta um bordado sutil ou mesmo um padrão de cor, destinado a cumprimentar o anfitrião
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O look envia uma mensagem de poder e estatura.
Igualmente icônico, porém, é o arsenal de bolsas da rainha. Talvez o mais familiar item de seu guarda-roupa.
As bolsas são criadas pela grife britânica Launer, e supostamente a rainha tem nada menos que 200 delas, todas com alças alongas para ajudar na hora de apertos de mão e afins.
Há muito tempo especula-se sobre o que a rainha carrega na bolsa. Especialistas em assuntos reais dizem que há sempre um espelho, batom e uma nota de 5 libras esterlinas para dar de esmola na missa dominical anglicana.
Outros dizem que Elizabeth carrega ainda um celular para ligar para os netos.
Mais interessante que o conteúdo, porém, é o uso das bolsas pela rainha para "falar" com seus assistentes: Se ela coloca o acessório sobre a mesa durante um jantar, por exemplo, isso é um aviso discreto de que a soberana gostaria de ver o fim do evento.
Em uma recente foto de família, uma bisneta segura a bolsa como um troféu.
Mas a rainha também sabe trabalhar o lado pujante. Seus mantos, capas e tiaras são uma senhora combinação, até porque joias não faltam na coleção real.
E o fato de que esse look é popular no mundo da moda em 2016 - com estilistas como Saint Laurent, Gucci e Valentino incorporando tons monárquicos a suas coleções de primavera-verão - sugere que, mesmo aos 90 anos, a mensagem passada pela soberana por meio de sua alfaiataria ainda tem sua mágica.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) site BBC Culture